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Minas subnotifica tripanossomose bovina



O receio de pecuaristas em comunicar a ocorrência da tripanossomose bovina em seus rebanhos leiteiros é um dos entraves enfrentados pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) no combate à doença em Minas. Oficialmente, foram registradas 21 mortes no Estado desde o início de junho, sendo todas na região Central. Mas o órgão estima que entre 300 e 500 cabeças tenham morrido. O problema é que alguns produtores rurais temem, equivocadamente, a interdição de suas propriedades e a proibição do trânsito de animais. Por isso, omitem a informação do órgão de defesa sanitária.

No entanto, dados mais precisos sobre a tripanossomose bovina podem ajudar o instituto a pressionar o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) a liberar a importação do cloreto de isometamidium, medicamento eficaz no combate à doença, fabricado na Venezuela e não reconhecido pelas autoridades brasileiras.

O IMA encaminhou ao Mapa um pedido para que o medicamento seja registrado e tenha a importação autorizada o mais rápido possível, uma vez que as demais drogas disponíveis no mercado brasileiro não são eficientes. Apesar da urgência em uma solução, ainda não existe previsão de quando o pedido será analisado pelo ministério. A expectativa é de que representantes do Mapa venham a Belo Horizonte analisar a questão junto ao instituto.

A reportagem entrou em contato com o Mapa, mas, até o fechamento desta edição, o ministério não havia dado retorno sobre o assunto.

Transmitida pelo protozoário Trypanosoma vivax, a tripanossomose bovina tem um índice de mortalidade em torno de 10%. Os animais que sobrevivem demandam grande período para recuperação, o que interfere na produção de leite. Normalmente, os bovinos acometidos apresentam falta de apetite, febre, emagrecimento, anemia, hemorragias generalizadas. Muitos morrem em menos de uma semana. Outros sintomas como aborto, redução na produção de leite e cegueira, também podem ser observados.

A doença pode ser transmitida por insetos hematófagos, como moscas dos estábulos ou pelo uso da mesma agulha para vários animais em períodos de vacinação, sem passar pelo processo de esterilização.

"Assim que identificar os primeiros sintomas da doença no rebanho, o percuarista precisa notificar ao IMA, para que os técnicos possam orientá-lo sobre a melhor forma de conduzir a situação. ? importante que fique claro que a doença tem notificação obrigatória, mas não é passível de interdição das unidades produtoras", esclarece a coordenadora regional do IMA, unidade Bom Despacho, Kênia da Silva Guimarães.

Segundo ela, o órgão está fazendo um trabalho de conscientização para que os casos sejam notificados e para que os pecuaristas adotem medidas sanitárias básicas. "Os prejuízos causados são significativos e impactam diretamente na produção, que normalmente é reduzida em 60%", frisa.

Ainda segundo Kênia, devido à omissão dos produtores na comunicação dos casos, não é possível afirmar ao certo quantos animais foram infectados. A estimativa do IMA é que entre 300 e 500 bovinos tenham morrido em decorrência da doença. Até ontem, haviam sido registrados casos nas cidades de Abaeté, Paineiras, Biquinhas e Martinho Campos, todas na região Central de Minas. Existe suspeita de contaminação em rebanhos nas cidades de Maravilhas e Pequi.

Agulhas

Segundo o gerente de defesa animal do IMA, Sérgio Luiz Lima Monteiro, oficialmente, foram registradas 21 mortes de bovinos e 43 animais infectados. A maioria dos casos de contaminação no Brasil ocorre em função do uso de uma única agulha em vários animais.

"O produtor precisa ficar atento às medidas fitossanitárias e usar uma agulha descartável por animal ou esterilizar as agulhas de uso coletivo. Os casos já registrados no Estado foram de bovinos vacinados em conjunto, utilizando-se apenas uma agulha. Outro cuidado que deve ser adotado é o controle da mosca do estábulo, uma vez que a transmissão pode ocorrer com a picada deste inseto", alerta Monteiro.

Produtividade do rebanho pode cair até 60%

O impacto econômico da tripanossomose bovina na região Central do Estado pode ser significativo, já que a produtividade do rebanho leiteiro contaminado cai cerca de 60%. Além disso, sem o uso do cloreto de isometamidium, a recuperação dos animais é mais lenta, aumentando ainda mais os prejuízos.

De acordo com o diretor comercial da Cooperabaeté (Cooperativa dos Produtores Rurais de Abaeté e Região), Rogério Lage de Oliveira, a pecuária de leite na região de atuação da cooperativa - que abrange os municípios de Abaeté, Biquinhas, Paineiras e Morada Nova de Minas - é a principal atividade rural desenvolvida, com a captação anual girando em torno de 80 milhões de litros.

"A pecuária é a principal fonte de renda da maioria das famílias que vivem na área rural. Por isso, o impacto da tripanossomose bovina será bem significativo. Por ser uma doença nova na região, ainda não temos muitas informações de quanto será a perda, mas ela é certa e impacta na economia de todos os municípios envolvidos. ? necessário que o governo federal avalie a questão e libere a importação do cloreto de isometamidium, já que este é o único medicamento capaz de combater a doença e evitar a proliferação da mesma para outras regiões", ressalta.

O pecuarista Elessandro Francisco de Castro, proprietário do Sítio Mamote, em Biquinhas, foi um dos produtores que diagnosticou a tripanossomose bovina no rebanho. Os primeiros animais doentes foram identificados no início de junho, porém, com a realização da Copa do Mundo, Castro não conseguiu laboratórios para realizar os exames rapidamente, fazendo-os apenas em meados de julho, quando foi confirmada a enfermidade.

Prejuízo

Segundo o pecuarista, a doença atingiu 80% do rebanho em lactação e em prenhez - cerca de 50 vacas, sendo que 15 morreram e outras 12 abortaram. Os animais em recuperação tiveram a produtividade reduzida em 50%. A suspeita de Castro é que a contaminação tenha ocorrido através do uso da mesma agulha em vários animais, entre os quais estava uma vaca recém-comprada, que pode ter sido a causadora da contaminação do rebanho. Após o problema, o pecuarista passou a utilizar uma agulha para cada bovino.

"Ainda não foi possível estimar o prejuízo, mas será enorme. A captação no sítio, que girava em torno de 1,3 mil quilos de leite por dia antes da tripanossomose bovina, foi reduzida para 300 quilos no pico da doença, e agora está próxima a 600 quilos. Além disso, as duas melhores vacas, que produziam mais de 40 quilos de leite por dia, morreram. As demais apresentam produtividade menor, cerca de 25 quilos diários", lamenta Castro.

As informações são do Diário do Comércio.

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